Vinyl Laranja é uma daquelas bandas que adoram dificultar a vida dos que bancam os videntes na música. Adivinhar como soarão seus discos novos não é das tarefas mais fáceis. A cada trabalho lançado, novas influências ganham espaço, com pegadas mais firmes e uma sonoridade muito mais madura.
A banda já tem 10 anos de estrada, mas soa mais revigorada do que nunca. E no seu último trabalho, Rooster Illusion, destilou todo o potencial para se tornar um nome notável na cena do rock brasileira. O que antes era um flerte com o Stoner Rock, hoje é um relacionamento aberto com incontáveis gêneros. Rooster Illusion é uma viagem que começa nas canções mais melódicas dos anos 90 e nos leva até o peso do metal alternativo dos anos 2000. A incomplexidade para perceber as levadas de Weezer é a mesma que descobre os riffs secos e carregados de vestígios de Tool e Queens Of The Stone Age.
Rooster Illusion, em muitos momentos, tira o ouvinte do seu conforto. A seleção de faixas deixa a impressão de ter sido feita aleatoriamente, sem a menor preocupação em estabelecer uma linearidade no disco. E essa talvez seja uma de suas grandes virtudes. Cada música desperta uma atenção extra, causada pelo constante estranhamento entre as mudanças bruscas de sonoridade.
Uma das mais emblemáticas, talvez, seja a dobradinha “Maryanne” e “To Love”. Enquanto a primeira apresenta uma ótima melodia radiofônica, “To Love” carrega riffs marcantes, com fortes influências da era de ouro do Sabbath e um poderoso refrão que a qualifica como uma das melhores músicas do rock brasileiro em 2014. A sequência “Emylie” e “Jaws” também é digna de nota, percorrendo suaves acordes de violão até desencadear nos gritos explosivos do vocalista Andro Felipe.
Mas a qualidade do disco vai muito além das suas mudanças. “Mr.Blue Sky” e “Sentimental Car”, títulos que inauguram o álbum, são capazes de prender a atenção do fã mais aficionado de Fanclub, enquanto “Rooster Illusion” (música homônima do álbum), “Volcano” e “I Am The Wolf” revelam uma sequência matadora, recheada de peso, riffs sólidos e vocais estridentes.
No fim das contas, Rooster Illusion pode soar como o resultado de uma equação criada por quatro integrantes com gostos musicais distintos, mas é muito mais que isso. É o retrato sincero e fiel de uma geração que ouviu de tudo um pouco. E nesse caso, ouviu muito bem.
